quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Que civilização?

O que é a violência?
Infelizmente, constatamos a cada dia que nos acostumamos a um estado de coisas lastimável. Hoje, foi discutido na Câmara dos Deputados o projeto que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Graças a Deus (?), não foi votado.
Ah meus caros congressistas, você não entendem nem a dimensão do problema. Como tornar real uma ilusão jurídica, como se de fato modificar a lei fosse alterar em algo a situação vigente. E a excelentíssima presidente do Superior Tribunal de Justiça, doutora Ellen Gracie, nos diz que não podemos nos levar pela emoção, aprovando ou modificando leis em momentos de grande comoção.
A obtusa juíza pressupõe que, passado o horror no qual estamos mergulhados agora, em virtude do assassinato covarde e brutal de João Hélio, haverá novamente um período de normalidade, no qual o hábito da civilização voltará a imperar, com carros parando para os pedestres cruzarem as ruas, os mais novos levantando-se e dando o lugar no ônibus aos mais velhos, todos dizendo "por favor" e "obrigado".
Voltamos à normalidade sim; na madrugada de hoje, o vice-presidente da Escola de Samba Salgueiro foi fuzilado junto à sua esposa, após um dia de enorme tiroteio entre policiais e traficantes no Morro do Alemão.
Realmente, tudo está normal: 6 pessoas morreram na favela, mas afinal eles nem devem fazer falta. Já eram marginalizados e estavam tolhidos de sua dignidade, morando em condições sub-humanas e trabalhando por salários miseráveis, assim como aqueles policiais que combatiam os Robin Wood´s do morro.
Perdemos a noção do que seja a violência; e ainda chamamos Hitler de bárbaro.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Só para lembrar de um velho ídolo

Há três anos iniciei meus estudos de pós-graduação, e m e decidi por estudar um assunto muito discutido, mas que sempre deve estar na pauta de discussão: as conformações políticas existentes na Europa no início do século XX, em especial no caso do fascismo italiano.
O fascismo marcou-se por ser um movimento anti-classista, anti-parlamentar, anti-democrático, anti-comunista; baseado na idéia da "comunidade de destino", voltou-se para a idéia da reconquista do povo, já esgotado das soluções políticas aristocráticas e liberais, e que também olhavam com profunda desconfiança o modismo mal-arrumado que se disseminava no Leste.
No entanto, grande parte da literatura voltada às análises do fascismo foi feita por marxólogos que pareciam querer dizer "Olha lá, tá vendo do que a direita é capaz?", sempre abstraindo do maior exemplo da barbárie civil do século XX, o regime stalinista soviético, DE CONOTAÇÃO E INSPIRAÇÃO MARXISTAS.
Mas enfim, como hoje não estou com disposição de falar e escrever muito, enquanto lia, me lembrei de uma velha frase do velho polemista (e meu ídolo) Paulo Francis:
"O melhor discurso anti-comunista é deixar um comunista falar".

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Da Barbárie


O recente acontecimento no Rio de Janeiro, com bandidos que roubaram um carro e arrastaram um menino de 6 anos preso pelo cinto de segurança, por vários quilômetros, me fez repensar o próprio conceito de sociedade.
Criou-se o Estado para que os homens, dentro de um ambiente de segurança, pudessem exercer o máximo de sua liberdade, entendida esta como a possibilidade de se realizar ações que visando a um fim benéfico, também não tolham a liberdade alheia.
No entanto, cada vez que um acontecimento destes vem a tona, nos perguntamos como devemos punir os criminosos, o que deve ser feito para coibir a violência. Logicamente, os juristas de plantão (e politiqueiros oportunistas) falam da redução da maioridade penal, e das formas como devem ser punidos os adolescentes que desrespeitem as regras de convivência (e no nosso caso, o próprio respeito pela humanidade).
Será esta a forma de punir quem comete o crime? Em minha opinião, parte-se de um princípio duvidoso: existe uma idade a partir da qual se está propenso a delinquir? Não seria mais justo abolir a maioridade penal e tornar TODOS responsáveis, civil e criminalmente, por seus atos?
Uma vez que temos pais cada vez mais omissos e ausentes em relação à educação de seus filhos, não seria mais justo deixar que a sociedade os julgue então? Não seria melhor os representantes do povo investir seriamente na educação e pararem de construir presídios federais, com os quais, no ano de 2007, serão gastos 46 milhões de reais somente EM MANUTENÇÃO, ou seja, para alimentar e deixar encarcerados os infratores?
Não seria o caso de repensar o próprio teor das nossos propagandas, que bombardeiam a cabeça dos jovens com as mensagens de "consumo = felicidade", uma vez que não se dá condições a todos de consumir? O consumo em si não é o problema, uma vez que esta oportunidade seja dada a todos.
A continuidade das falácias de nossos governantes e a inação deste povo cada vez mais ignorante é que nos brinda com estes absurdos, com os quais apenas fazemos cara de indignados, e esperamos pacientemente pela novela, com capítulo inédito a seguir.