domingo, 13 de maio de 2007

O novo herói nacional

A visita do papa Bento XVI ao Brasil nesta semana trouxe um novo ânimo à fé do povo brasileiro, o qual parece precisar mais de apoio divino do que nunca, já que as soluções imediatas, advindas da prática política, parecem sempre se debater no plano da ineficiência e da desonestidade. No entanto, esta vinda ao país do sumo pontífice suscita outras questões, as quais não devem passar em branco e que ajudam a compreender diversos pontos que são fundamentais no caráter do brasileiro. Em primeiro lugar, a visita do papa deve concretizar o processo de canonização de Frei Galvão, tornando-o o primeiro santo brasileiro. Gesto de grande peso, uma vez que este acontecimento vai criar um maior sentimento de identificação entre os devotos do beato. No entanto, este episódio nos alerta para algo mais grave: a necessidade, não satisfeita entre o povo, de possuir seus heróis. Há sempre um clamor em torno das cerimônias do Oscar, do prêmio Nobel, ou mesmo do processo de canonização, no qual esperamos ‘‘qual será o primeiro brasileiro a se tornar...?’’. Precisamos destes tipos de heróis? Talvez não, uma vez que heróis já os temos vários, embora nossa memória coletiva seja pródiga em esquecê-los e lembrar apenas das datas comemorativas, já que estas se tornaram feriados. Mas nos esquecemos da essência destes festejos, como o do 21 de abril, quando foi executado o líder da primeira revolta que visava separar o Brasil de Portugal, ou o 7 de setembro, quando conseguimos nossa independência política. Em que pesem as considerações infinitas sobre o real significado destes personagens, parece que sempre estamos a nos afastar deles, tendo a necessidade de construir novos heróis, novos mitos que guiem nossas existências. É este vazio de significado que parece assolar o brasileiro, sem memória, sem história. Talvez este processo sobre Frei Galvão de fato gere um novo sentimento de pertencimento a nosso povo, que anda desiludido e sem rumos. No país no qual o exemplo que vem de cima nos mostra que a corrupção e desonestidade sempre se saem melhor do que o trabalho árduo e a justiça, talvez a reafirmação de nossa fé católica, através da canonização do ilustre personagem, sirva de lição, e que nos dê aquilo que ainda não devemos perder: a esperança de dias mais justos e melhores.
Publicado no dia 09 de Maio de 2007, no jornal Folha de Londrina